A Espinha do Diabo (El Espinazo del Diablo, Guillermo del Toro, Espanha, 2001, 106 minutos) Muito longe do que o título possa sugerir, A Espinha do Diabo não se trata de um filme que aborde temas religiosos ou, ainda, de um filme B sanguinolento. Em seu terceiro longa-metragem, Guillermo del Toro resolve explorar a guerra civil espanhola nos anos de 1930. Com pitadas fantásticas, o roteiro aborda a chegada de Carlos (Fernando Tielve), um garoto de 12 anos que é deixado pelo seu tutor em um orfanato onde os filhos dos combatentes são criados até que a guerra termine. A instituição é localizada em um lugar remoto e os encarregados de cuidarem das crianças são Carmem (Marisa Paredes), que assume a função de diretora, e Casares (Federico Luppi), um professor de ciências e médico nas horas vagas. Se não bastasse os temores decorrentes da guerra em si, os órfãos ainda são obrigados a conviver com a presença do fantasma de um ex-interno.
A abordagem do diretor a guerra civil é feita de maneira distanciada, o que nos proporciona um maior aprofundamento no cotidiano dos ditos civis. Diferentemente de um dos últimos longas-metragens do diretor que também aborda a mesma época — O Labirinto do Fauno — a vertente fantástica que se faz presente no enredo é muito mais dosada, proporcionando que as situações sobrenaturais passadas pelos órfãos adquiram uma aura quase crível. Os aspectos técnicos da película também merecem destaque. A começar pelo figurino até a cenografia, todos os componentes contribuem para que a ambientação da Espanha da década de 1930 seja verossímil.
O longa-metragem possui um paralelo com o Pixote de Hector Babenco por se tratar, em sua base, de uma metáfora de amadurecimento da inocência para a fase adulta. Ambos, o personagem-título de Babenco e o Carlos de Del Toro, começam o filme com uma visão infantil do mundo que os cerca (por mais que Pixote seja um anti-herói) e a cada novo acontecimento vão formulando seu caráter amadurecido. As cenas finais dos dois filmes são bem emblemáticas ao mostrar um dualismo entre o infantil e o adulto: no caso de A Espinha do Diabo esse equilíbrio dinâmico se faz presente ao mostrar os órfãos empunhando armas em sua caminhada final.
Pedro Alves
quinta-feira, 29 de maio de 2014